O país era um arco-íris,
O presidente, azul
As cores só existiam depois da chuva
As plantas eram regadas com o silêncio
Tudo ia bem
Até que não parou de chover por semanas
Foram meses esperando o sol
A recompensa,
Dois lindos arco-íris
O país duplicou
Agora o amarelo também era presidente
Um dia todas as cores vão mandar, diziam
Que felicidade
Então o sol ficou e ficou
Nada da próxima chuva
O sol só queria saber de brilhar,
Amedrontando as nuvens
Quando elas vieram, com raiva,
Trouxeram também raios e muito vento
Todos aguardaram para existir
A tempestade parou
Veio o sol e o arco-íris
Apenas um
Agora as cores não sabiam quem mandava
Era o azul?
Era o amarelo?
Que seja o vermelho, gritavam
O azul e o amarelo não gostaram nada disso
Veio a próxima chuva e o próximo sol
O arco-íris apareceu, mas estava menor
O vermelho havia sumido
Isso é coisa do azul, diziam uns
Isso é coisa do amarelo, acusavam outros
O arco-íris não é tão bonito sem todas as cores
Quase sem querer e se importar
Votaram no verde
Ele, o laranja, o anil e a violeta
Saíram a procurar
Vermelho!
Vermelho!
O grito ressoava pelo campo, sem resposta
Logo todos desaparecem,
Um arco-íris não dura muito tempo
Esperaram a próxima chuva, mas era inverno
O frio, seco, durou tanto
A grama ficou pálida e rala
As árvores não davam frutos
Arco-íris de novo, só na primavera
O vermelho voltou
Para a alegria das cores
Mas agora estava acuado
Não queria ser o líder
Quem foi?
Quem foi?
Perguntavam
O vermelho não respondia
E pela primeira vez o arco-íris
Sumiu sem ter um líder
Nas chuvas e sols seguintes
Os debates ficaram quentes
Não porque era verão
Todos queriam o direito de mandar
O azul dizia que era o mais experiente
O amarelo, o mais enérgico
O laranja dizia que era também uma fruta, iria acabar com a fome
Mas ali, a única fome era de poder
Quando a violeta disse que poderiam governar juntos
Todos riram dela
O vermelho,
Tão quietinho,
Não dava corda para ninguém
Não dizia palavra e, aos poucos,
Parou também de ouvir
Ressurgia cada vez mais fraco
As discussões, cada vez mais acaloradas
Cada um votava em si
E ninguém se elegia
O vermelho era o único que não votava mais
No próximo arco-íris, já era de se esperar,
Ele não apareceu
Dessa vez ninguém foi procurá-lo
Uma a uma,
As cores sumiram
Deu tempo de
Uma única vez
A violeta reinar sozinha
Seu pedido solitário,
Que as cores voltassem todas,
Não foi atendido
imagem: Reginhard Baumgartnet